domingo, 18 de dezembro de 2016

De um ponto a outro

salto a plenos pulmões
para a vertigem da vida

prazer, mistério e coragem
sustentam
este voo sem amarras

um calor de liberdade sobe
e envolve-me
em pleno ar

na queda, cascas antigas
desprendem-se
de um corpo dolorido
de tempos sem retorno

arde-me a pele
que queima
fênix pronta para
nova chance

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Fronteira

existimos
jogados
na malha do tempo

(ad infinitum)

a consciência disso
é só um detalhe
de Deus

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Detalhe


                                    me bate
                                    uma dúvida:

                                    o momento exige
                                    um olhar
                                    mais aberto

                                    o tudo,
                                    mais amplo,
                                    é bem mais complexo

                                    olhar o mais perto
                                    me deixa disperso?

sábado, 20 de agosto de 2016

Caixa*

no fundo
a certeza
que sabemos
que nada sabemos

o vazio

que é o ar da caixa
é o silêncio
das respostas

*(inspirado por Maysa e Mariana - Clipe2016)

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Arrepios

o tempo comum
não retorna...
é um rio

os saltos, sim...
voltam em imagens
delicadamente doloridas

que inundam o ser
num arrepiar de pelos
no corpo inteiro

fortes
emocionantes

não tem como fugir

domingo, 14 de agosto de 2016

No dia dos pais

Tem vezes que as pessoas nos veem na rua, acho interessante essa sensação. Quando é criança, nos cumprimentam do nada, dizem olá, às vezes sorriem. Hoje um me viu no ônibus. Sentava no primeiro banco junto à sua mãe e comia um lanche. Olhou e me seguiu com um olhar atento. Durante o percurso, permaneceu sentado. Quando eu ia descer, passou a catraca e caminhou pelo corredor em minha direção, quando chegou mais perto, percebi que estava sem camisa, chinelinhos de dedo e pés avermelhados de terra. Ao me alcançar próximo à porta de saída, sentou no banco ao meu lado, virou sua carona rosada para mim, deu mais uma boa olhada, abriu um sorriso enorme e disse bem alto: Feliz dia dos pais.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Colheita
















as palavras
não brotam fáceis
para mim

são implacáveis
têm vida própria
fazem jogo

(impaciente)

aguardo
o tempo delas

(maduras)

colho-as
devagar

Ivan Leite – 8.8.16


sábado, 6 de agosto de 2016

Haikai - II - Luz Solar




                               Manhã, luz solar.
                               Folhas a brotar.
                               Matinal verdejar.


quinta-feira, 21 de julho de 2016

Um homem feito criança

Quando a parte criança de um homem adulto resolve agir, ele atravessa uma avenida em movimento, quase é atropelado, sobe em uma grade, pega uma goiaba madurinha, morde-a e volta, correndo e feliz, para o mesmo local que havia saído; sob os olhares dos mais próximos.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

domingo, 5 de junho de 2016

Espera

pinceladas rosas
em nuvens cinzas
encerram a tarde
na janela de outono

corpos sapateiam
entre o meio-fio
e portas de ferro
cerradas

luzes de neon despertam
acendendo a noite

passou-se o dia
a noite se impôs
e você não veio
me iluminar

domingo, 22 de maio de 2016

Borboleta



  pousada
        em chão frio
            asas abreviadas
     descansam
de voos
        na brevidade
   do tempo



quarta-feira, 18 de maio de 2016

Espelho

quis rasgar o espelho
e fazer mil picadinhos
da minha sensatez

fiz caretas
repuxei a pele
mostrei a língua

ela continuou

o reflexo não mente
diante do rosto

aqui dentro
continuo a recortar
esta máscara
em desequilíbrio

se me achar no espelho
é dor refletida

Clipe2016

quarta-feira, 11 de maio de 2016

sábado, 7 de maio de 2016

Face

a face
disfarça
a faca
que corta
a força
do outro


[com sugestões de Yuri Morroni e Fabio Weintraub] - Clipe2016

domingo, 24 de abril de 2016

domingo, 17 de abril de 2016

Floresta*

a flor
da árvore
desenvolvida
não floresce
na floresta
destruída

*inspirado por Alexandre Handfest - Clipe2016

Vida

não consigo
acordar do sonho
a realidade
se transforma
e eu transformado
pelo prazer de ser

Beijo

bocas,
lábios...

finos,
flocados

línguas,
ligações

olhos
fechados

sugar,
deleitar

terça-feira, 5 de abril de 2016

Corpo interno

Uma caçamba azul-enferrujada trazia em seu corpo a marca: Terra Prometida.

Encostada no meio-fio, sobre asfalto quebradiço de uma rua sem saída, trazia dentro de si entulhos de demolição.

Ao vê-la, me pus a refletir sobre as barreiras que nos impomos e na possibilidade de descartá-las.


quarta-feira, 30 de março de 2016

Deus

não negá-lo
parece ser corajoso

acreditar
sentir
aceitar

é questão
de querer

além do que...

a dúvida
abre sempre
possibilidades



Clipe2016

Força de hábito

                                 [para Evandro Affonso Ferreira]

no prazer da leitura
palavras preenchem
a alma

a colocação
a sonoridade
o significado

se fortalecem
na forma

no todo

expressividade
e linguagem
se impõem

domingo, 20 de março de 2016

Resposta íntima

    “Enquanto estou neste mundo visível, sou
        um símbolo de minha alma.” - C. G. Jung

o que o invisível
nos traz?

guerra de visões.

ver é acreditar?
aceitar é ver?

- meu Deus?
- a Dúvida.

Clipe2016

sábado, 19 de março de 2016

Quatro estações

                                      (para Lucas Bronzatto)

mais um verão se apaga
na iminência de um outono
negro

sombras de retrocesso
se confundem
em danças organizadas
disfarçadas
marcadas
em celebração

outono
negro

já li nos livros
vi meu pai chorando
certa noite incrédula
vi medo
vi paredes em ruínas
pichadas

no país de sabores e cores
aguardo
redesenhando minha esperança
no desfecho
das questões de polos

polos desejosos por grana
polos desejosos por sol

que posso diante de exceções
de poderes distintos
instituídos
que salvaguardam
direitos podres?

no inverno do meu ser
não forçarei meu grito
ele é acanhado, é fraco
jazo perplexo na apatia
mas faço destes versos
rebeldia

que a força dos meus versos
nos inquietos caminhos
que transito
possam se transformar
num grito
que uma nova
primavera
de Praga
renasça

que se redesenhem
rumos
planos
caminhos

que o verão resista
insista!